O PAPEL - JURA ARRUDA / CRÔNICA


De onde vem o papel? Pensava Nino, sentado ao pé de um frondoso Ipê amarelo. Sabia que seus pais compravam na papelaria. Papelaria! – exclamou - É de lá que o papel vem. Depois pensou um pouco e viu que não tinha sentido. É da papelaria que vem, mas do que é feito? É feito de papel! – exclamou novamente. A tarde caminhava para o final e um vento de outono bateu por lá. Nino fechou os olhos. De onde vem o vento? 

Deixou-se tocar, virou o rosto para um lado e para outro. Está vindo de lá. - olhou para o campo que ia além da cerca de arame. Uma flor caiu da árvore e alojou-se em seu colo pequeno. Olhou para cima, tanto amarelo! Mais o verde das folhas, mais o céu azul. Era praticamente a bandeira do Brasil cobrindo-o. Uma bandeira sem estrelas, mas que falta faziam naquele momento?

Alguém, do outro lado da rua empinava uma pipa vermelha. Pipa é feita de papel e bastou isso para Nino voltar a pensar o que pensava antes. De que é feito o papel? Recostou-se melhor na árvore, arrancou um matinho do chão e mordiscou. Papel, branquinho do jeito que é, deve vir de um lugar muito limpo. A pipa desenhou um arco e mirou o telhado da casa de Verinha. Antes de tocar a telha, porém, voltou a subir, na mais pura demonstração de habilidade de Lorenzo. Era o próprio Lorenzo que fazia as pipas. Ele era muito inteligente. 

A Verinha apareceu na janela. Não o viu. Penteava os cabelos longos. Olhou para o céu, viu a pipa. O Lorenzo, bem de safadeza, embicou de novo o papagaio e fez ele passar raspando pela janela de Verinha. Ela arregalou os olhos e sorriu. Lorenzo acenou e ela retribuiu. Eles ainda vão se casar, disse – de papel passado! Lá foi Nino pensar de novo na origem do papel, sem se dar conta que recostava na mãe da celulose: a árvore. Fechou os olhos e sentiu algo tocar-lhe a perna. Era uma folha de papel trazida pelo vento. Olhou para um lado e para outro e não viu nada que pudesse sugerir de onde aquele papel tinha vindo. Pegou-o. Tinha algo escrito com letras bem redondinhas, umas coladinhas às outras, algumas em azul, outras em vermelho, umas flores do lado. Se já soubesse ler, saberia o que se dizia ali. Virou o papel e do outro lado tinha um coração desenhado. A mão de Verinha puxou o papel de uma só vez. 

- É minha!

A menina saiu desembestada, voltou à janela. Nino viu Verinha colocar o papel bem dobradinho em um envelope. A pipa do Lorenzo desceu de novo, mas dessa vez, Verinha a agarrou. Prendeu nela o envelope e soltou-a no ar de novo. De que é feito o papel, Nino ainda não descobriu, mas já sabe muito bem para que ele serve.

(Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia - 29/03/2014)
O papel
Jura Arruda

De onde vem o papel? Pensava Nino, sentado ao pé de um frondoso Ipê amarelo. Sabia que seus pais compravam na papelaria. Papelaria! – exclamou - É de lá que o papel vem. Depois pensou um pouco e viu que não tinha sentido. É da papelaria que vem, mas do que é feito? É feito de papel! – exclamou novamente. A tarde caminhava para o final e um vento de outono bateu por lá. Nino fechou os olhos. De onde vem o vento? 

Deixou-se tocar, virou o rosto para um lado e para outro. Está vindo de lá. - olhou para o campo que ia além da cerca de arame. Uma flor caiu da árvore e alojou-se em seu colo pequeno. Olhou para cima, tanto amarelo! Mais o verde das folhas, mais o céu azul. Era praticamente a bandeira do Brasil cobrindo-o. Uma bandeira sem estrelas, mas que falta faziam naquele momento?

Alguém, do outro lado da rua empinava uma pipa vermelha. Pipa é feita de papel e bastou isso para Nino voltar a pensar o que pensava antes. De que é feito o papel? Recostou-se melhor na árvore, arrancou um matinho do chão e mordiscou. Papel, branquinho do jeito que é, deve vir de um lugar muito limpo. A pipa desenhou um arco e mirou o telhado da casa de Verinha. Antes de tocar a telha, porém, voltou a subir, na mais pura demonstração de habilidade de Lorenzo. Era o próprio Lorenzo que fazia as pipas. Ele era muito inteligente. 

A Verinha apareceu na janela. Não o viu. Penteava os cabelos longos. Olhou para o céu, viu a pipa. O Lorenzo, bem de safadeza, embicou de novo o papagaio e fez ele passar raspando pela janela de Verinha. Ela arregalou os olhos e sorriu. Lorenzo acenou e ela retribuiu. Eles ainda vão se casar, disse – de papel passado! Lá foi Nino pensar de novo na origem do papel, sem se dar conta que recostava na mãe da celulose: a árvore. Fechou os olhos e sentiu algo tocar-lhe a perna. Era uma folha de papel trazida pelo vento. Olhou para um lado e para outro e não viu nada que pudesse sugerir de onde aquele papel tinha vindo. Pegou-o. Tinha algo escrito com letras bem redondinhas, umas coladinhas às outras, algumas em azul, outras em vermelho, umas flores do lado. Se já soubesse ler, saberia o que se dizia ali. Virou o papel e do outro lado tinha um coração desenhado. A mão de Verinha puxou o papel de uma só vez. 

- É minha!

A menina saiu desembestada, voltou à janela. Nino viu Verinha colocar o papel bem dobradinho em um envelope. A pipa do Lorenzo desceu de novo, mas dessa vez, Verinha a agarrou. Prendeu nela o envelope e soltou-a no ar de novo. De que é feito o papel, Nino ainda não descobriu, mas já sabe muito bem para que ele serve.

(Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia - 29/03/2014)

IMPORTANTE! FEIRA DO LIVRO - JOINVILLE / MUDANÇA NO HORÁRIO DE ABERTURA

Prezados diretores, professores, alunos e pais 

A coordenação da Feira do Livro lamenta profundamente ter de informá-los que, por motivos de força maior, a abertura das atividades do evento deste ano acontecerá às 13h30 do dia 4 de abril – e não mais às 9h, como estava previsto. Por esta razão, toda a programação da parte da manhã teve de ser cancelada. Ao pedir sinceras desculpas pelo imprevisto, absolutamente fora de nosso controle, reiteramos nossa intenção e parceria para que as escolas, seus alunos, pais e professores participem, ao máximo possível, da programação, que tem diversas outras atividades voltadas à educação para a leitura e a literatura – além da presença de autores consagrados na área como Ana Maria Machado, Pedro Bandeira, Léo Cunha, entre outros.

Contando com sua compreensão e, sobretudo, com seu tradicional apoio a este evento, que inaugurou há 11 anos, uma saudável mobilização para a educação para a cidadania através da leitura e a literatura, somos

Atenciosamente

Organização 
11ª Feira do Livro de Joinville

SAGA IMPRESSA. SAIBA MAIS E AGENDE-SE


Depois de cinco miniantologias, Associação Confraria das Letras apresenta sua publicação mais robusta.

A produtividade da Associação Confraria das Letras não para: nove dias depois de lançar sua 5a miniantologia, apresenta sua obra mais robusta, a antologia Saganossa, que apresenta textos de 22 escritores associados. O palco do lançamento será a 11a Feira do Livro de Joinville, onde a associação, ao lado da Biblioteca Pública e da Confraria do Escritor manterão um estande de exposição e venda de autores da região.

“No espaço de um ano e meio, é nossa sexta publicação”, comemora o presidente David Gonçalves. Com sua vertente prática, David preside a associação há 2 anos e acredita que a instituição está ajudando a mudar a forma de se ver a literatura da região. “Saganossa deve se transformar num selo da editora da associação, onde futuras publicações estão previstas.

Uma cooperativa

A novidade nesta publicação da Associação Confraria das Letras está no sistema utilizado, de cooperativa, no qual os custos básicos foram rateados entre os autores. “É, sem dúvida, o primeiro passo para um grande projeto literário”, vislumbra o presidente.

A Confraria na Feira do Livro

A Associação Confraria das Letras, ao lado da Confraria do Escritor, marcarão presença na 11a Feira do Livro de Joinville. Um estande está sendo preparado para que os escritores joinvilenses recebam o público e exponham suas obras. Além de espaço próprio, os confrades deverão fazer, no dia 11 de abril, um lançamento coletivo, com 12 novos títulos confirmados até esta segunda-feira (31/03).

Sobre o lançamento:

7abr,14, às 19h30

Auditório da Feira do Livro

Entrada franca, livro vendido a R$ 20,00

Mais informações com David Gonçalves: 9974-7080

LANÇAMENTO SAGANOSSA! AGENDE-SE!

A ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES CONFRARIA DAS LETRAS TEM O PRAZER DE CONVIDÁ-LOS PARA MAIS ESTE EVENTO LITERÁRIO. ESCRITORES UNIDOS  EM PROL DAS LETRAS. COMPAREÇA!


AGENDE-SE! LANÇAMENTO DO LIVRO SAGANOSSA / 07/04/2014





CANÇÃO PARA UMA VALSA LENTA / MARIO QUINTANA


Minha vida não foi um romance…
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa… de encanto… de medo…

Minha vida não foi um romance,
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance…
Pobre vida… passou sem enredo…
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance…
Ai de mim… Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso… de um gesto… um olhar…

(Mario Quintana)
(In, “Canções”, segundo livro de Mario Quintana, Ed. Globo e “Melhores Poemas de Mario Quintana, Global Editora” – conferi pessoalmente o texto em Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 156)


SOBRESSALTO / CONTO / ODENILDE N. MARTINS

    

Sobressalto

É noite quente, de lua clara. As crianças brincam na pequena praça, correndo para lá e para cá, brincando de pega-pega ou de esconde-esconde, enquanto os pais conversam animados. Não há o que temer, todos se conhecem. Ali, o tempo corre sem grandes sobressaltos. As portas e janelas não são trancadas, travas para quê? A vida moderna e seus estorvos são vistos de muito longe, esporadicamente. Curiosidade em vivê-la ? Não. O que precisam, eles têm, quase tudo. Um ou dois mascates trazem o que não produzem. Não há o que temer.

Julião Mascate chegou logo cedo à pequena cidade, tocando a buzina para se anunciar: vinha carregado de tecidos coloridos e outras quinquilharias.

__ Biiiiippppp!! Bibipiiiiiiii! __ É hora, minha senhora! Venha escolher seu tecido! Julião tem de tudo: tem brincos, tem colares. Água de cheiro tem, também! Venha logo, não demore! __ Biiiipppp! Biiiipppp! __ Pro patrão, tem também! Para a criançada, bolas coloridas e bonecas, lápis de cor e peteca!

Minutos depois, lá estava Julião, barraca montada na praça. Em dias de barraca na praça, que mal havia de se esquecer alguns afazeres? As pessoas acorriam, ninguém ficava em casa. Ao entardecer, como sempre, Julião partiria.

Naquela noite, a conversa girava em torno da chegada do mascate e das compras feitas. Lindaura e Alzirinha jogavam peteca, separadas dos demais meninos e meninas.

As vendas foram fracas e, por isso, Julião resolveu ficar na cidadezinha e montar sua barraca novamente no dia seguinte.

A peteca foi arremessada com muita força. Onde foi parar? Lindaura sai à procura do brinquedo. Demora demais. Alzirinha resolve procurar também. Atrás do coreto, tropeça e cai. Cai sobre o corpo sem vida de Lindaura.

A cidadezinha, tomada de pesar, está muda de terror e espanto. Julião Mascate sumiu.

A maldade tomou forma e tocou a todos. É concreta e tem nome: Julião Mascate.

Portas e janelas se fecham. Na praça, não se ouve mais o alarido alegre do riso das crianças, brincadeiras não há. As rodas de conversas diminuíram. Restringem-se a uns poucos homens que conversam baixo e espiam desconfiados por cima do ombro. A cada desconhecido que na cidadezinha chega, um sobressalto. O mal existe. O povo carrega a marca indelével do medo.

ODENILDE N. MARTINS, CONTO PUBLICADO NA 5ª MINIANTOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRAS, 29/03/2014.

CONCORDÂNCIA


Pardalzinho

"O pardalzinho nasceu Livre.
Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa.
Água, comida e carinhos. 
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!"

BANDEIRA, Manuel. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1982.

1. Você acha que o pardalzinho, ao morrer, ficou novamente livre? Justifique sua resposta de forma convincente.

2. Considerando que o verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa, retire do texto dois exemplos de concordância verbal e explique-os.

Exemplo 1:

Exemplo 2:

3. Agora explique a concordância destas frases, lembrando-se de que o verbo, normalmente, concorda com seu sujeito.

a) O pardalzinho e Sacha eram amigos de verdade.
b) Tu e Sacha gostais de pardais?
c) Vocês amam a liberdade?
d) A maioria dos seres prefere casa à liberdade?

4. Em que alternativa se fez a concordância corretamente?
( ) A multidão avançavam pela praça com cartazes.
( ) Casa, comida e roupa lavado, nada o agradava.
( ) Os Maias tornou conhecido o escritor Eça de Queiroz.
( ) Haviam alunos naquela classe fechada.
( ) Brigou os gatos caolhos e os cães ferozes.

5. Reescreva as orações abaixo fazendo as alterações pedidas:

a) Veio o gerente e o vendedor com a mercadoria para a troca. (coloque o sujeito antes do verbo)
b) Tu e ela mereceis umas boas férias neste final de ano. (substitua o pronome “tu” pela primeira pessoa do singular)
c) Um grande número de jogadores treinava na sede do clube. (transforme o sujeito simples em composto)
d) Oferece-se bom emprego nesta empresa. (passe o termo “bom emprego” para o plural)

http://www.analisedetextos.com.br/2014/01/pardalzinho-questoes-de-concordancia.html

"SER FELIZ ME CONSOME MUITO" - CLARICE LISPECTOR

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1925.


Clarice

“Nasci numa aldeia chamada Tchetchelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante.
Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchetchelnik para eu nascer e prosseguiram viagem.
Cheguei ao Recife com apenas dois meses de idade.
Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor."
Em 1937, após a morte da mãe, vai para o Rio de Janeiro; em 1941 inicia o curso de Direito na então Faculdade Nacional de Direito; era, por essa ocasião, redatora na Agência Nacional e trabalha no jornal A Noite, o mesmo que lhe editaria seu primeiro livro em 44: Perto do Coração Selvagem.
Em 1943 casa-se com Maury Gurgel Valente, diplomata, e tem com ele seus filhos Pedro e Paulo. Viaja com o marido por vários países e mora em vários dele também: Suíça, Estados Unidos, Inglaterra.
Em 1959, separa-se do marido e em definitivo vem para o Rio de Janeiro, cidade em que morará até o fim de sua vida. Até esta data já tinha editado os livros O lustre (1946, em Berlim); A maçã no escuro (1959). Em 1964 publica A paixão segundo GH e, em 69 sai Felicidade clandestina.
Morreu de câncer generalizado, em 1977.
Ela era uma menina de 17 anos quando escreveu Perto do coração selvagem. A crítica saudou-a imaginando uma mulher adulta, escrevendo à moda de James Joyce, o inglês que iniciou, em 1925, o romance intimista.
Álvaro Lins, crítico temido e respeitado da época, ao ler o romance de Clarice, espantou-se, emocionado e Antônio Cândido, escreveu sobre ela:
“Por isso, tive verdadeiro choque ao ler o romance diferente que é Perto do coração selvagem (...) Com efeito, este romance é uma tentativa impressionante para levar a nossa língua canhestra a domínios pouco explorados, forçando-a a adaptar-se a um pensamento cheio de mistério, para o qual sentimos que a ficção não é um exercício ou uma aventura afetiva, mas um instrumento real do espírito, capaz de nos fazer penetrar em alguns dos labirintos mais retorcidos da mente."
(Antônio Cândido, Vários Escritos, "No Raiar de Clarice Lispector")
Adepta do Existencialismo, Clarice Lispector segue à risca o preceito filosófico de que deva especular a existência até o cerne, ir a fundo nas dores interiores, tentando descobrir-lhes as origens e os fundamentos.
Ler Clarice é ato do qual não se sai impunemente: ela provoca descobertas, abre feridas, faz sangrar por dentro. Interessa à escritora descobrir o que há por dentro das criaturas, o que pretendem de suas vidas, o que fazem com elas mesmas.
Veja o estilo da escritora em questão:


Lispector

Tentação
"Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava23. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento em momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária.
Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher?
Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade nesse mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele troteando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia24 suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado.
Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou pra trás."
Os labirintos da alma humana... eis o que pretendeu desvendar Clarice. Para tanto ela se utiliza de:
1. Captação do fluxo de consciência (monólogo interior); tal expediente possibilita sempre a captação da essência humana, de suas sensações mais íntimas e espontâneas;
2. Ruptura com o modelo formal da unidade narrativa: nas narrativas claricenas, mais importante que o tempo cronológico, o enredo, as ações encadeadas, está o que é surpreender as personagens no ato de existir, suas dores fundas, sensações, esperanças e malogros.
3. A epifania: sensação de que o mundo, de repente, "mostra-se" à personagem, desvenda-se e a deslumbra.
4. O mistério metafísico: outro desvendamento do ser que se entrega à vida, às sensações, ao ato de viver. Suas dores doem fundo, solenemente, mas as personagens ganham para si a liberdade que descobrir a vida e suas dores traz.
5. As metáforas insólitas:
((Houve um momento grande, parado, sem nada dentro. Dilatou os olhos, esperou. Nada veio. Branco. Mas de repente num estremecimento deram corda no dia e tudo recomeçou a funcionar, a máquina trotando, o cigarro do pai fumegando, o silêncio, as folhinhas, os frangos pelados, a claridade, as coisas revivendo cheias de pressa como uma chaleira a ferver. Só faltava o tin-dlen do relógio que enfeitava tanto. Fechou os olhos, fingiu escutá-lo e ao som da música inexistente e ritmada ergueu-se na ponta dos pés. Deu três passos de dança bem leves, alados." (Perto do Coração Selvagem)
Citações verdadeiras de Clarice Lispector

Clarice Lispector é uma das autoras de que mais gosto. Infelizmente há uma infinidade de citações na internet atribuídas erroneamente a ela. Fiz uma compilação de frases verdadeiras dela e coloco logo abaixo.

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... 
Ou toca, ou não toca.
Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.
Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. 
Sou irritável e firo facilmente. 
Também sou muito calmo e perdoo logo. 
Não esqueço nunca. 
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.
Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar.
...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada
Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim.
...estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.

http://www.analisedetextos.com.br/2014/02/ser-feliz-me-consome-muito-clarice.html

BOM VER. INTERESSE: PROFESSORES, ALUNOS, LEITORES ...



Anáfora: é o mecanismo coesivo por meio do qual se retomam referentes expressos anteriormente no texto.

Argumentos: "provas" que demonstram o que se quer defender (ideia, tese ou posição).

Argumentos por citação: fundamentam um encaminhamento analítico daquilo que se quer provar por meio de opiniões de outros autores, que conferem autoridade ao ponto de vista defendido no texto.

Argumentos por comprovação: dados, percentuais e estatísticas usados como argumentos para se comprovar uma tese.

Argumentos por raciocínio lógico: também fundamentam um encaminhamento analítico daquilo que se quer provar por meio do estabelecimento ou explicitação de nexos causais (relações de causa e efeito).

Artigo de opinião: gênero discursivo claramente argumentativo que objetiva expressar o ponto de vista do autor, que o assina, sobre alguma questão relevante.

Autobiografia: biografia escrita pelo próprio biografado.

Biografia: narração que reconstitui fatos mais relevantes da vida de uma pessoa ou personagem que, na maior parte das vezes, alcançou a celebridade por meio, das suas ações.

Blog: um dos gêneros discursivos criados após o surgimento da internet, em que usuários compartilham ideias, sentimentos, textos escritos e visuais, comentários em uma espécie de diário virtual.

Boletim de ocorrência: gênero discursivo que registra o relato das vítimas de um crime ou de um acidente automobilístico.

Carta argumentativa: gênero discursivo em que o autor se dirige a um interlocutor específico com o objetivo de defender por meio de argumentos um determinado ponto de vista, geralmente contrário ao do interlocutor.

Carta de leitor: carta argumentativa na qual o autor se dirige à seção específica de um órgão de imprensa (jornal ou revista) com o intuito de expressar uma opinião sobre alguma matéria anterior do órgão.

Carta pessoal: gênero discursivo em que o autor do texto se dirige a um interlocutor específico, com o qual pretende estabelecer uma comunicação a distância.

Cartão-postal: gênero discursivo por meio do qual pessoas distantes estabelecem contato, associando imagens de locais visitados a notícias e comentários breves.

Catáfora: é o mecanismo coesivo por meio do qual se identificam referentes expressos posteriormente no texto.

Charge: gênero discursivo constituído por uma ilustração, frequentemente acompanhada por observações escritas, e que recorre ao humor para criticar algum acontecimento contemporâneo, geralmente de natureza político-social.

Coerência textual: seleção e a articulação de ideias, informações, argumentos e conceitos compatíveis entre si que permitem a construção do sentido do texto.

Coesão referencial: relação entre palavras e expressões, no interior do texto, que permite ao leitor identificar os referentes sobre os quais se fala.

Coesão sequencial: é aquela que cria, no interior do texto, condições para que o discurso avance.

Coesão textual: articulação de várias partes de um todo textual através de elementos linguísticos específicos.

Contexto: é um conjunto de circunstâncias extralinguísticas a que um texto se refere; depende do conhecimento de mundo dos leitores para ser identificado.

Contra-argumentos: fatos, dados, reflexões que demonstrem para o leitor por que os argumentos contrários a argumentos apresentados em um texto podem ser questionados.

Contiguidade: mecanismo coesivo que se estabelece a partir do uso de termos pertencentes a um mesmo campo semântico.

Conto: é uma narrativa curta que apresenta os mesmos elementos do romance (narrador, personagens, enredo, espaço e tempo), mas dele se diferencia pela concisão, linearidade e unidade; apresenta um conflito e sua solução.

Crônica: gênero discursivo no qual um autor relata e interpreta fatos do cotidiano, chamando a atenção do leitor para algo que não costuma ser percebido pelo senso comum.

Diário: gênero discursivo no qual são registrados acontecimentos cotidianos a partir de uma visão pessoal; o autor do diário costuma ser o seu leitor.

Discurso: refere-se à relação entre os usos da língua e os fatores extralinguísticos presentes no momento em que esse uso ocorre.

Discurso direto: apresentação direta da fala das personagens, sem interferência do narrador.

Discurso indireto: reconstrução da fala das personagens pela linguagem do narrador.

Discurso indireto livre: situação narrativa em que a fala ou o pensamento de uma personagem se confunde com a voz do narrador.

Editorial: gênero discursivo que tem a finalidade de expor a opinião de um jornal sobre importante acontecimento nacional ou internacional; não é assinado.

Enredo: história contada que resulta da integração harmoniosa de todos os elementos narrativos (narrador, personagem, espaço e tempo).

Espaço narrativo: um dos elementos organizadores da história que se conta.

Espaço físico: conjunto de elementos da paisagem exterior; cenário no qual será ambientada a história.

Espaço interior (psicológico): vivências, sentimentos e pensamentos das personagens; espaço que define a ambientação, estabelecendo uma atmosfera (clima) para os acontecimentos que serão narrados.

Flashback: recurso de fazer a narrativa voltar no tempo por meio das recordações do narrador.

Fluxo de consciência: procedimento narrativo utilizado por narradores em 1ª pessoa que expressa, por meio de um monólogo interior, os vários estados de espírito e emoções que caracterizam uma personagem.

Foco narrativo: perspectiva a partir da qual se conta uma história; pode ser de 1ª pessoa ou de 3ª pessoa.

Formação discursiva: conjunto de temas (categorias ordenadoras do mundo natural) e de termos (elementos que estabelecem uma relação com o mundo natural) que concretizam uma visão de mundo específica.

Gêneros discursivos: correspondem a certos padrões de composição de texto determinados pelo contexto de produção, público, finalidade, contexto de circulação, estrutura, linguagem, etc.

Ideologia: sistema de crenças, pensamentos, doutrinas, tradições, princípios ou mitos de um grupo social os quais refletem os próprios interesses, sejam eles sociais, políticos, religiosos ou econômicos.

Imparcialidade narrativa: narração objetiva dos acontecimentos; nas histórias contadas por um narrador em 3ª pessoa, a imparcialidade é relativa, pois não é apresentada uma só visão de mundo de uma única personagem, e sim os sentimentos, emoções e pensamentos mais privados de diferentes personagens.

Implícito: subentendido; algo que depende do conhecimento do contexto estabelecido pelo texto para que possa ser explicitado.

Inferência: tipo de raciocínio que conclui alguma coisa a partir de outra já conhecida.

Interlocutor (de um texto): leitor ou ouvinte em quem o autor pensa no momento de elaborar um texto.

Interlocutor universal ou genérico: perfil de leitor mais abrangente, não-específico; textos jornalísticos de grande circulação costumam dirigir-se a interlocutores universais.

Intertextualidade: relação que se estabelece entre diferentes textos quando um deles faz referência (direta ou indireta) a outro, que participa da construção do seu sentido.

Juízo de fato: enunciado que diz o que é uma coisa, como e por que ela é.

Juízo de valor: julgamento que expressa uma apreciação, avaliação ou interpretação sobre a realidade.

Lide (lead): informações básicas contidas no início de uma notícia: o que aconteceu, com quem aconteceu e quando aconteceu.

Marcas de interlocução: identificadores textuais do interlocutor (você, querido /a fulano /a) a quem o autor escreve.

Mensagem eletrônica (e-mail): gênero discursivo que se caracteriza por uma comunicação escrita muito rápida entre interlocutores conectados em rede virtual.

Monólogo interior: conversa que a personagem tem consigo mesma.

Narrador: quem conta a história em um texto narrativo em prosa.

Narrador-observador: narrador em 3ª pessoa que conta apenas o que observa, sem saber o que se passa no interior das personagens.

Narrador-onisciente: narrador em 3ª pessoa que tem total conhecimento dos fatos e do que pensam e sentem as personagens de uma história.

Narrador-protagonista: narrador em 1ª pessoa e personagem principal de uma história que gira em torno dele.

Narrador-testemunha: narrador em 1ª pessoa que não protagoniza a história.

Notícia: texto que informa de modo objetivo fatos de interesse público, sem a emissão de opinião por parte de quem o escreve.

Olho: enunciado breve abaixo do título que destaca o aspecto principal de notícias, reportagens, artigos de opinião, etc.

Op-Ed: redução de "Oposto ao Editorial"; refere-se a artigos de opinião assinados que aparecem na página oposta ao editorial de um jornal (que geralmente está na 2ª página).

Pergunta retórica: em textos argumentativos, chama a atenção para um aspecto que se queira destacar; a "resposta" é dada pelo próprio autor na sequência.

Personagens: seres ficcionais que vivenciam os acontecimentos contados em uma narrativa.

Persuasão: convencimento; o ato de persuadir refere-se à capacidade de, por meio de argumentos e/ou apelos emocionais, convencer um interlocutor a respeito de algo.

Ponto de vista (perspectiva): recurso utilizado pelo narrador para apresentar a seus leitores um acontecimento, interpretação ou espaço a partir de um determinado ângulo.

Pressuposto: ideia, circunstância, juízo ou fato considerado como antecedente necessário de algo que foi dito.

Raciocínio falacioso: tipo de raciocínio que parte de premissas verdadeiras para chegar a uma conclusão falsa.

Relato: gênero oral ou escrito que tem por finalidade informar os fatos (sequência de acontecimentos ou ações) associados a um acontecimento específico.

Relatório: gênero discursivo, de natureza analítico-expositiva, no qual são apresentados resultados de um experimento observado ou análise de uma pesquisa.

Repetição (reiteração): mecanismo coesivo utilizado para construir e manter presente o sistema de referências no interior do texto.

Reportagem: gênero discursivo que traz informações mais detalhadas sobre temas específicos; muitas vezes, as informações são obtidas a partir da observação direta dos fatos por um repórter.

Resenha: gênero discursivo de natureza argumentativa que combina a apresentação das características essenciais de um livro, peça de teatro ou filme com comentários e avaliações críticas sobre sua qualidade.

Substituição: mecanismo coesivo que consiste no uso de termo de mesmo valor no lugar de outro.

Tempo cronológico: fatos narrados na ordem em que acontecem.

Tempo histórico: refere-se ao momento histórico em que se situam os fatos narrados.

Tempo narrativo: um dos elementos organizadores da história narrada.

Tempo psicológico: a rememoração do passado desencadeia a narrativa.

Texto: espaço de concretização do discurso. Texto de divulgação científica: gênero discursivo que tem por finalidade apresentar em termos compreensíveis para o público
não especializado o universo da ciência e da tecnologia.

Texto didático: gênero discursivo que ensina ou explica um conteúdo específico a quem não o domina ou não o conhece.

Texto dissertativo (dissertação): texto que se caracteriza por analisar, explicar, interpretar e avaliar os vários aspectos de um tema específico; a dissertação é generalizante em relação ao discurso e ao interlocutor.

Texto dissertativo-argumentativo: aquele que associa características expositivas à defesa de um ponto de vista sobre a questão abordada.

Texto enciclopédico: gênero discursivo que apresenta, de maneira organizada e sistemática, as informações sobre determinado conteúdo do conhecimento humano.

Textos instrucionais: caracterizam-se pela apresentação de uma série de procedimentos a serem seguidos em uma determinada circunstância; alguns gêneros discursivos com esta estrutura: receitas, manuais, regras de jogo, guias de uso.

Textos não-verbais: fotografias, ilustrações, mapas, gráficos, tabelas, etc.

Textos publicitários: caracterizam-se pelo objetivo de persuadir, ou seja, de convencer o interlocutor a agir de uma determinada maneira (comprando um produto, aceitando uma ideia, aderindo a uma causa); alguns gêneros discursivos com esta estrutura: anúncios, outdoors, fôlderes, etc.

Tipos de composição textual: narração, exposição, argumentação, descrição e injunção.

Verossimilhança: articulação entre ações, acontecimentos e suas motivações, com o objetivo de garantir que a história contada em uma narrativa, ainda que ficcional, pareça real, seja coerente.

http://www.analisedetextos.com.br/p/glossario.html
Turma da Mônica em Educação Financeira
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LANÇAMENTO DA 5ª MINIANTOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRA - JOINVILLE - 29/03/2014 - LIVRARIA MIDAS

LANÇAMENTO DA QUINTA MONIANTOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRAS - 29/03/2014, LIVRARIA MIDAS























BOM DIA, PESSOAS! HOJE, NA LIVRARIA MIDAS, ÀS DEZ HORAS, LANÇAMENTO DA QUINTA MINIANTOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRAS! PRESTIGIEM! É A CULTURA LOCAL ABRINDO CAMINHOS E ALARGANDO HORIZONTES.
“A boa literatura nos ajuda a ficar mais bem armados diante da vida e de qualquer engano. Te defende contra a mentira, a manipulação e as falsas aparências. Por isso é uma barbaridade educar as pessoas somente nas tecnologias.”
MARIO VARGAS LLOSA

AGENDA

UMA NOVA COLHEITA - ORELHADA / RUBENS HERBEST



Amanhã lançamento em Joinville. E outros na semanas seguintes.
Colaboração: Bernadete Bernadéte Costa

BROTAR POESIAS, RAMIFICAR CONTOS, FLORESCER CRÔNICAS



Fica o convite: Amanhã 10 horas na Livraria Midas!!
Lançamento Miniantologia - Associação Confraria das Letras
Fonte: Plural - Jornal Notícias do Dia (28 de março) - SONHAR, ESCREVER E VIVER

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO + GABARITO


DESPERDÍCIO BRASIL

Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil, no preço que pagam para fazer negócios num país com regras obsoletas e vícios incrustados. O atraso brasileiro é quase sempre atribuído a alguma forma de corporativismo anacrônico ou privilégio renitente que quase sempre têm a ver com o trabalho superprotegido, com leis sociais ultrapassadas e com outras bondades inócuas, coisas do populismo irresponsável, que nos impedem de ser modernos e competitivos. 
Raramente falam no que o capitalismo subsidiado custa ao Brasil. 
O escândalo causado pela revelação do que os grandes bancos deixam de pagar em impostos não devia ser tão grande, é só uma amostra da subtributação, pela fraude ou pelo favor, que há anos sustenta o nosso empresariado chorão, e não apenas na área financeira. A construção simultânea da oitava economia e de uma das sociedades mais miseráveis do mundo foi feita assim, não apenas pela sonegação privada e a exploração de brechas técnicas no sistema tributário - que, afinal, é lamentável, mas mostra engenhosidade e iniciativa empresarial – mas pelo favor público, pela auto-sonegação patrocinada por um Estado vassalo do dinheiro, cúmplice histórico da pilhagem do Brasil pela sua própria elite. 
O Custo Brasil dos lamentos empresariais existe, como existem empresários responsáveis que pelo menos reconhecem a pilhagem, mas muito mais lamentável e atrasado é o Desperdício Brasil, o progresso e o produto de uma minoria que nunca são distribuídos, que não chegam à maioria de forma alguma, que não afetam a miséria à sua volta por nenhum canal, muito menos pela via óbvia da tributação. Dizem que com o que não é pago de imposto justo no Brasil daria para construir outro Brasil. Não é verdade. Daria para construir dois outros Brasis. E ainda sobrava um pouco para ajudar a Argentina, coitada.

(Luís Fernando Veríssimo)


1) Para entender bem um texto, é indispensável que compreendamos perfeitamente as palavras que nele constam. O item em que o vocábulo destacado apresenta um sinônimo imperfeito é: 
a) “Sempre que se reúnem para LAMURIAR,...” - lamentar-se 
b) “...um país com regras OBSOLETAS...” - antiquadas 
c) “...e vícios INCRUSTADOS.” - arraigados 
d) “...alguma forma de corporativismo ANACRÔNICO...” - doentio 
e) “...ou privilégio RENITENTE...” - persistente

2) “Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil, no preço que pagam para fazer negócios num país com regras obsoletas e vícios incrustados.”; o comentário INCORRETO feito sobre os conectores desse segmento do texto é: 
a) A expressão sempre que tem valor de tempo. 
b) O conectivo para tem ideia de finalidade. 
c) A preposição em no termo no Custo Brasil tem valor de assunto. 
d) A preposição em no termo num país tem valor de lugar. 
e) A preposição com tem valor de companhia.

3) O segmento do texto que NÃO apresenta uma crítica explícita ou implícita às elites dominantes brasileiras é: 
a) “Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil...” 
b) “Raramente (os empresários) falam no que o capitalismo subsidiado custa ao Brasil.” 
c) “O escândalo causado pela revelação do que os grandes bancos deixam de pagar em impostos não devia ser tão grande,...” 
d) “...pela fraude ou pelo favor, que há anos sustenta o nosso empresariado chorão,...” 
e) “O Custo Brasil dos lamentos empresariais existe,...”

4) “...no preço que pagam para fazer negócios num país com regras obsoletas e vícios incrustados.”; na situação textual em que está, o segmento país com regras obsoletas e vícios incrustados representa: 
a) uma opinião do empresariado 
b) o ponto de vista do autor do texto 
c) uma consideração geral que se tem sobre o país 
d) o parecer do capitalismo internacional 
e) a visão dos leitores sobre o país em que vivem

5) O principal prejuízo trazido pelo Custo Brasil, segundo o primeiro parágrafo do texto, que retrata a opinião do empresariado, é: 
a) o corporativismo anacrônico 
b) o privilégio renitente 
c) trabalho superprotegido 
d) populismo irresponsável 
e) falta de modernidade e competitividade

6) O corporativismo anacrônico, o privilégio renitente, o trabalho superprotegido e outros elementos citados no primeiro parágrafo do texto indicam, em sua totalidade: 
a) deficiências em nosso sistema socioeconômico 
b) a consciência dos reais problemas do país por parte dos empresários 
c) o atraso mental dos políticos nacionais 
d) a carência de líderes políticos modernos e atuantes 
e) a posição ultrapassada do governo

7) “Raramente falam no que o capitalismo subsidiado custa ao Brasil.”; os empresários brasileiros raramente falam neste tema porque: 
a) são mal preparados e desconhecem o assunto. 
b) se trata de um assunto que não lhes diz respeito. 
c) se refere a algo com que lucram. 
d) não querem interferir com problemas políticos. 
e) não possuem qualquer consciência social.

8) “...coisas do populismo irresponsável,...” corresponde a: 
a) uma retificação do que antes vem expresso 
b) uma ironia sobre o que é dito anteriormente 
c) uma explicação dos termos anteriores 
d) mais um elemento negativo do país 
e) uma crítica sobre a política do país

9) O fato de os bancos deixarem de pagar impostos; 
a) faz com que o Brasil se torne a oitava economia do mundo. 
b) é prova de nossa modernidade. 
c) é comprovação de que estamos seguindo os moldes econômicos internacionais. 
d) é mais uma prova de injustiça social. 
e) garante investimentos em áreas mais carentes.

10) Subtributação só pode significar: 
a) sonegação de impostos 
b) ausência de fiscalização no pagamento dos impostos 
c) taxação injusta, por exagerada 
d) impostos reduzidos 
e) dispensa de pagamento de impostos

11) “...pela fraude ou pelo favor...”; os responsáveis, respectivamente, pela fraude e pelo favor são: 
a) o empresariado e o poder político 
b) o Congresso e o Governo 
c) os sonegadores e o empresariado 
d) os banqueiros e o Congresso 
e) as leis e o capitalismo internacional ,

12) Ao dizer que nosso empresariado é chorão, o autor repete uma ideia já expressa anteriormente era: 
a) bondades inócuas 
b) lamuriar 
c) populismo irresponsável 
d) atraso 
e) trabalho superprotegido

13) Segundo o texto, o Governo brasileiro: 
a) prejudica o desenvolvimento da economia. 
b) colabora com a elite no roubo do país. 
c) não tem consciência dos males que produz. 
d) explora as brechas técnicas do sistema tributário. 
e) demonstra engenhosidade e iniciativa empresarial.

14) As “brechas técnicas do sistema tributário” permitem: 
a) pagamento de menos impostos 
b) sonegação fiscal 
c) fraude e favor 
d) maior justiça social 
e) o aparecimento de queixas do empresariado

15) O “Desperdício Brasil” se refere à: 
a) ausência de distribuição social das riquezas 
b) subtributação patrocinada pelo Estado 
c) perda de dinheiro pela diminuição da produção 
d) queda de arrecadação por causa do Custo Brasil 
e) redução do desenvolvimento na área financeira

16)”...o progresso e o produto de uma minoria que nunca são distribuídos, que não chegam à maioria de forma alguma,...”; representam, respectivamente, a minoria e a maioria: 
a) banqueiros / empresariado 
b) elite econômica / trabalhadores em geral 
c) economistas / povo 
d) classes populares / classes abastadas 
e) desempregados / industriais

17) “...que não afetam a miséria à sua volta por nenhum canal, muito menos pela via óbvia da tributação”; nesse segmento, o autor do texto diz que os impostos: 
a) deveriam ser cobrados de forma mais eficiente. 
b) impõem a miséria a todas as classes. 
c) causam pobreza nas elites e nas classes populares. 
d) não retornam à população de forma socialmente justa. 
e) são o caminho mais rápido para o progresso. 



Gabarito dos exercícios de interpretação de textos

1) Letra d 
Questão de sinonímia. Anacrônico quer dizer fora da moda, fora do uso corrente.

2) Letra e 
A preposição com possui inúmeros valores semânticos. Tem valor de companhia em frases do tipo: ele saiu com o irmão. No texto, não é nítida a relação, mas diríamos que seu valor nocional é de posse (país que tem regras obsoletas e vícios incrustados). O que não se pode aceitar é a ideia de companhia, que não existe no trecho em destaque.

3) Letra e 
Na letra a, os empresários são criticados porque sempre lamuriam nas reuniões. Na b, o autor critica os empresários por quase não falarem no custo do capitalismo subsidiado. Na c, a crítica é aos grandes bancos por deixarem de pagar impostos. Na d, os empresários são criticados por causa da fraude ou do favor que os beneficiam. Não se depreende qualquer tipo de crítica na opção e.

4) Letra a 
É necessário voltar ao texto, mesmo que a questão esteja calcada em um trecho. Este, por si só, não dá elementos para que se responda. É preciso saber quem paga. O texto diz, logo em seu primeiro parágrafo: “Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil, no preço que pagam para fazer negócios...”. O sujeito de pagam é eles, ou seja, os empresários. Assim o trecho destacado nesta questão representa a opinião do empresariado.

5) Letra e 
A resposta aparece nítida no trecho “...que nos impedem de ser modernos e competitivos”. Só por curiosidade: o enunciado, por descuido, dá a resposta da questão anterior, quando diz “...que retrata a opinião do empresariado...”.

6) Letra a 
A resposta só pode ser a letra a porque todos os termos apresentados são colocados pelo empresariado como obstáculos aos seus negócios. Assim, deduz-se que se trata de deficiências que atingem a situação socioeconômica dos empresários, daí seus lamentos expostos em todo o primeiro parágrafo. As opções c, d e e são facilmente descartadas, porém a opção b poderia trazer alguma confusão. Ela não serve como resposta pois fala dos problemas do país, em geral, enquanto na realidade os empresários se lamentam pelos problemas que os atingem, não demonstrando preocupação com todos os tipos de problemas nacionais. 

7) Letra c 
O empresariado é, evidentemente, capitalista. Assim, lucrando com algo que traz prejuízos ao país (segundo o autor do texto), eles quase não falam a respeito, porque seriam naturalmente questionados.

8) Letra b 
É necessário ler com muita atenção o trecho. “Coisas do populismo irresponsável” refere-se a três termos citados anteriormente: “trabalho superprotegido”, “leis sociais ultrapassadas” e “outras bondades inócuas”. Isso lembra (e aí temos a necessidade de conhecimento extratexto) o famoso populismo, tão citado em relação a determinados governos. A palavra populismo está usada ironicamente, pois as três coisas deram errado, tanto é que há o reforço da palavra irresponsável.

9) Letra d 
A injustiça social ocorre porque, se alguns pagam, todos teriam de pagar impostos. Claro que para isso eu não preciso recorrer ao texto. Mas é perigoso raciocinar assim, pois o autor poderia estar contrariando, por qualquer motivo, esse axioma. Tente sempre localizar no texto. À vezes uma simples palavra ou expressão responde ao que se quer. Por exemplo, a palavra escândalo, no início do segundo parágrafo. Também nos dá essa ideia a expressão pela fraude ou pelo favor, algumas linhas adiante (há alguns favorecidos, outros não, eis a injustiça social).

10) Letra d 
Subtributação pode ser entendida como o ato de tributar por baixo, de maneira reduzida. Por isso a resposta é a letra d, que fala de impostos reduzidos. A palavra não se refere ao não-pagamento de impostos, o que elimina as alternativas a e e.

11) Letra a 
O texto diz, no segundo parágrafo, que a subtributação sustenta o empresariado e ocorre por fraude ou favor. Ora, a fraude é cometida pelo interessado, que no caso é o empresariado. E quem dá favores que levem a uma subtributação só pode ser o governo, pois só ele tem esse poder.

12) Letra b 
Lamuriar é chorar. No primeiro período do texto, a ação de lamuriar ou chorar é atribuída aos empresários. 

13) Letra b 
Ao favorecer o empresariado com a subtributação, o governo está colaborando com o roubo da elite, pois o dinheiro deixa de ser recolhido pelos cofres públicos, de onde sairia para bancar projetos sociais. Dessa forma, a população está sendo roubada.

14) Letra a 
A subtributação, que é o pagamento de menos impostos, só existe porque há brechas no sistema tributário, devidamente exploradas para benefício do empresariado. Se não houvesse tais brechas, os empresários pagariam os impostos devidos.

15) Letra a 
A resposta se encontra no trecho: “...mais lamentável e atrasado é o Desperdício Brasil, o progresso e o produto de uma minoria que nunca são distribuídos, que não chegam à maioria de forma alguma...” (3o parágrafo).

16) Letra b 
A maioria, no texto, são os menos favorecidos; a minoria, aquela classe que possui em excesso. Com isso, a letra a é descartada, pois coloca dois grupos favorecidos. Na letra c, a palavra economistas destoa do que se imagina sobre uma classe poderosa, rica; economista é também trabalhador, pode ser rico ou pobre. Nas opções d e e houve inversão: primeiro os menos favorecidos, depois os privilegiados. Assim, a resposta só pode ser a letra b.

17) Letra d 
Afetar a miséria à sua volta seria fazer algo para acabar com ela ou, pelo menos, diminuí-la, sendo que o caminho lógico para isso é o da utilização dos impostos, a tributação. Como eles não retornam devidamente à população, como diz a letra d, que é o gabarito, a miséria continua a mesma.

http://www.analisedetextos.com.br/2014/03/coletanea-de-exercicios-de.html