Chega de saudade by Joao GIlberto


-A gravação de João Gilberto para “Chega de saudade” revolucionou a MPB e inaugurou a Bossa Nova. O músico já tinha tocado violão na gravação que Elizeth Cardoso fez da canção, mas foi sua versão que influenciou 10 em cada 10 músicos da MPB (De Roberto Carlos a Caetano Veloso, passando por Tim Maia e Gal Costa).
-Enquanto Tom e Vinicius definiram a harmonia da bossa (mistura de jazz e samba), foi João Gilberto quem popularizou o jeito sussurrante de cantar e quem criou a batida revolucionária de violão.
Em 30 de novembro de 1980, morria Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola. Um dos nomes mais importantes da música brasileira, o sambista compôs, entre outras canções, "As rosas não falam" e "O mundo é um moinho".

Escrever bem

Creio que escrever bem, tem sido uma preocupação crescente, não só no meio literário mas também no escolar. É imprescindível que todos os envolvidos nesse processo, busquem informação através da leitura, haja vista que:" Escrever bem importa: conquista a confiança do leitor e ainda acrescenta beleza ao mundo", escreve Pinker. Abaixo temos informações valiosas sobre o "escrever bem",  em entrevista dada pelo psicólogo Steve Pinker ao site da revista Veja. Boa leitura!
Odenilde Nogueira Martins

Os grandes escritores têm cada um o seu "estilo": um modo próprio, único e reconhecível de se exprimir. Mas "estilo" também guarda o sentido de "maneira de escrever correta e elegante" e "linguagem aprimorada", conforme os dicionários. O que faz o gênio literário é desses mistérios que mal se podem sondar. Mas a ciência já sabe dizer o que torna a comunicação escrita "correta e elegante" e como "aprimorar a linguagem".

O psicólogo canadense Steven Pinker, da Universidade Harvard, acaba de lançar nos Estados Unidos um saboroso guia de estilo "para o século XXI", chamado The Sense of Style ("O sentido do estilo", em tradução livre), que a Companhia das Letras estuda publicar no Brasil. Pinker é um dos cientistas mais famosos e citados da atualidade. Passeia com desenvoltura por diversos campos da ciência e ainda tem a reputação de ser um excelente escritor. Seu manual demonstra bem ambos os dotes. Farto dos velhos manuais de redação, Pinker investigou os princípios que regem o bom uso do idioma à luz dos achados da linguística, neurociência e psicologia. "Sabemos mais sobre a linguagem no século XXI do que 50 anos atrás. Temos melhores teorias da gramática. Temos os resultados de experimentos sobre o que torna uma sentença fácil ou difícil de entender", diz, em entrevista ao site de VEJA. "Isso tudo pode se traduzir em conselhos mais úteis do que impressões pessoais compartilhadas por um escritor."

Embora proveitoso a escritores de qualquer "estilo", o guia de Pinker é dirigido especialmente a quem deseja cultivar certo gênero particular de "prosa clássica". Moldado na França do século XVII, por autores como Descartes, Pascal e La Rochefoucauld, o estilo clássico se funda em dois pressupostos: um leitor intelectualmente capaz e um escritor disposto a conquistá-lo para contar algo importante e verdadeiro. "A metáfora que guia o estilo clássico é a de ver o mundo. O escritor pode ver algo que o leitor ainda não viu e orientar o seu olhar para que veja por si mesmo", escreve Pinker. É o estilo que premia a clareza, marcas dos bons ensaios, resenhas, biografias, artigos e até cartas, posts, e-mails etc.

Descartes é uma espécie de patrono do estilo clássico. Seu Discurso Sobre o Método é umas das obras mais concisas e acessíveis da filosofia – com cerca de 50 páginas, foi publicado em francês, não em latim, como mandava o costume – e promete logo em seu subtítulo "bem conduzir a razão e procurar a verdade", profissão de fé dos autores clássicos. Seus ideais de clareza, coerência e racionalidade podem, no entanto, ser identificados também em listas de best-sellers: Thomas Piketty (O Capital no Século XXI), Lira Neto (Getúlio), Laurentino Gomes (1808) e Walter Isaacson (Os Inovadores), entre outros.


'A escrita é e
sempre foi difícil'
Steven Pinker, psicólogo

Por que é tão difícil escrever bem? A principal razão é a "maldição do conhecimento": quando você sabe algo, é muito difícil imaginar o que é para outra pessoa não saber a mesma coisa. Não ocorre ao escritor que os leitores não conhecem seu jargão, não podem visualizar a cena que eles têm em mente ou ligar todos os pontos sem dar os passos intermediários, que são sonegados porque se supõe que sejam óbvios demais. Por esta maldição, o escritor não se dá ao trabalho de explicar os termos técnicos, expor a lógica do argumento ou fornecer os detalhes concretos.

O que há de tão especial sobre o ato de escrever no século 21?: Duas coisas. Em primeiro lugar, as línguas mudam. Significados também mudam. Um manual de escrita tem de refletir o idioma da forma como ele é utilizado atualmente, e não a língua falada por nossos bisavós. Em segundo lugar, sabemos mais sobre a linguagem no século XXI do que 50 anos atrás. Temos melhores teorias da gramática. Temos os resultados de experimentos sobre o que torna uma sentença fácil ou difícil de entender. Temos estudos sobre a história do uso da língua e suas controvérsias. Isso tudo pode se traduzir em conselhos mais úteis do que impressões pessoais compartilhadas por um escritor.

Por que o senhor enfatiza que seu guia é destinado a "uma pessoa pensante"? :Muitos manuais de redação tradicionais perderam o sentido. Eles fornecem pseudorregras que violam a lógica da linguagem e que nunca foram observadas por bons escritores. A única razão para um manual incluir essas regras é que os manuais anteriores também o fizeram. Além disso, mesmo as orientações sensatas - como evitar a voz passiva e omitir palavras desnecessárias - não são tão boas se escritores seguirem-nas roboticamente, sem entender como e por que elas podem melhorar a prosa (ou piorá-la, se aplicadas indiscriminadamente).

Que outras questões de estilo a ciência ainda pode iluminar?: Eu gostaria de ver mais pesquisas sobre como as áreas do cérebro não ligadas à linguagem estão envolvidas na boa escrita. Eu suspeito que áreas visuais e motoras do cérebro são ativadas quando as pessoas leem textos bons, vívidos, ao contrário do "profissionalês". Eu também gostaria de ver mais pesquisas sobre o que torna a escrita esteticamente agradável e intelectualmente estimulante, em vez de apenas fácil de ler.

O que o senhor acha do estilo das novas gerações?: As pessoas mais velhas sempre acham que os jovens estão corrompendo a linguagem e pondo abaixo a civilização. Hoje é a internet. Não muito tempo atrás, era a televisão, e antes o rádio, a publicidade impressa e a imprensa. No entanto, cá estamos no século 21, e não estamos grunhindo como chimpanzés. Muitas pessoas escrevem mal hoje, e alguns são jovens. Mas muitos jovens escrevem lindamente (na internet ou não) - e muitas pessoas velhas escrevem mal. A escrita é e sempre foi difícil.

Clareza – Para expressar-se com clareza, é necessário, obviamente, pensar com clareza, mas George Orwell observou que o contrário também é verdadeiro. Falando sobre a língua inglesa, escreveu: "ela se torna feia e imprecisa porque nossos pensamentos são tolos, mas seu desmazelo torna mais fácil para nós termos pensamentos tolos" — o que, a propósito, explica muito do incômodo causado pelo dilmês e outros dialetos do poder. Ao nos livrarmos dos vícios de linguagem, argumentou o autor de 1984, poderemos pensar mais claramente.

Orwell combatia a desvalorização da linguagem, "no que se refere" à opção por eufemismos, clichês, argumentos circulares e imprecisões várias. Pinker mira alguns desses mesmos vícios de linguagem, mas lança um olhar benevolente sobre o autor – e também sobre o leitor. Seu mau escritor não é vulgar ou esnobe, mas uma vítima da "maldição do conhecimento": é simplesmente incapaz de se colocar no lugar do coitado do leitor.

Diversos estudos concluíram que o ser humano tem uma forte tendência a esquecer o esforço que lhe custou adquirir certo conhecimento, passando a tratá-lo como mero exercício do bom senso. Como superar a maldição? Para começar: evite o jargão, cuidado com abreviações, procure explicar os termos técnicos e seja generoso com comparações e exemplos. Um escritor atencioso deve saber que há um limite para o conjunto de dados que o leitor pode processar ao mesmo tempo — e o limite é estreito, algo como três a quatro conceitos de cada vez, segundo os neurocientistas. É possível agrupar as informações em blocos, e assim abrir espaço para mais informações, mas isso exige familiaridade com o tema. O ainda ministro da Fazenda Guido Mantega pode tratar confortavelmente "política monetária" como um só conceito, assim como "centro da meta de inflação" e "ajuste fiscal contracionista", entre outras expressões palavrosas do economês. Já para o brasileiro comum, cada abstração dessas exige um tremendo esforço cognitivo.

Graça – Estilo importa, argumenta Pinker, por três razões. Em primeiro lugar: faz a mensagem chegar ao leitor com eficiência, poupando-o de perder tempo decifrando frases obscuras. Segundo: estilo ganha confiança. Se o autor se preocupa com a qualidade do texto, pode-se supor que seja igualmente rigoroso com tudo o mais. Terceiro e não menos importante: "estilo acrescenta beleza ao mundo", escreve o canadense.

Para acrescentar beleza ao mundo, não basta correção gramatical. Os bons autores "escrevem como se tivessem algo importante para mostrar", afirma Pinker. Essa motivação ajudará o escritor a equilibrar objetividade e graça. É certo que textos muito empetecados são intoleráveis – "é bom que não se note muito o ofício", recomendava o argentino Jorge Luis Borges –, mas a prosa clássica não pode se confundir com um parecer técnico. Ela costuma recompensar a obsessão pela "palavra justa", a frase exata, o ritmo adequado, a surpresa planejada, a metáfora precisa.

Norma – Nessa cruzada para capturar a atenção do leitor, o autor eventualmente pode trombar com a norma culta. Como muitos linguistas, Pinker é um liberal da gramática e um ácido crítico da patrulha do idioma. Gosta de lembrar que a língua está sempre mudando, à revelia do gosto pessoal de cada um. "Muitas palavras que foram rejeitadas pelos puristas como abominações, como os verbos "to contact" e "to finalize", tornaram-se perfeitamente aceitáveis. Significados também mudam. Um manual de escrita tem de refletir o idioma da forma como ele é utilizado atualmente, e não a língua falada por nossos bisavós."

Mas Pinker também tem seus caprichos. Por exemplo: no inglês, a terceira pessoa do plural tem gênero neutro ("they" vale para "eles" e "elas"), mas a do singular não ("he" para ele, "she", para ela). Citando estudos sobre a simbologia do "he", o psicólogo defende que se use o "they" também no singular, para tratar de generalizações que incluam homens e mulheres. Miudezas desse tipo aparecem no capítulo final do livro. É a parte do livro que mais se assemelha aos velhos manuais. Ali, Pinker desce às questões concretas da gramática inglesa: "which" ou "that", "who" ou "whom", "less" ou "fewer" etc.

A discussão pode entediar o leitor brasileiro, mas causou barulho nos círculos de língua inglesa. Pinker invoca as luzes da ciência e da boa literatura para rever casos complexos de concordância, regência, pontuação etc. A New Yorker, a mais estilosa revista americana, não gostou. Para Nathan Heller, as escolhas de Pinker são frequentemente feitas com base em razões estéticas, e suas regras podem levar a ambiguidades e complexidade: "Ele combate pedantismo com mais pedantismo." Para quem se bate pela clareza e alega falar em nome da ciência, é uma crítica e tanto.

Treino – Em favor de Pinker, no entanto, deve-se lembrar que ele tem seu leitor em altíssima conta, tal como reza o pressuposto do estilo clássico. O psicólogo argumenta que seguir regras irrefletidamente torna a escrita pior, não melhor. "Mesmo as orientações sensatas — como evitar a voz passiva e omitir palavras desnecessárias — não são tão boas se forem cumpridas roboticamente", diz. É uma observação que só faz sentido para quem já adquiriu o domínio da norma – talvez por isso Pinker sublinhe que seu manual é endereçado a "pessoas pensantes". Não se pretende, portanto, encorajar quem não tem noção dos fundamentos da língua a ignorar a norma em nome do estilo.

"Escrever é e sempre foi difícil", diz Pinker. Ao contrário da fala, argumenta, a palavra escrita é uma invenção recente que não deixou marca em nosso DNA. Não é um instinto, mas uma técnica, que só se aprende com muito treino e o teste de um vastíssimo repertório de regras, convenções e conselhos, como os de Pinker. Repetidamente, alguém dirá que essa técnica está se perdendo. O psicólogo discorda. Gosta de lembrar que os antigos sumérios já reclamavam da decadência da escrita. "As pessoas mais velhas sempre acham que os jovens estão corrompendo a linguagem e pondo abaixo a civilização. Hoje é a internet. Não muito tempo atrás, era a televisão, e antes o rádio, a publicidade impressa e a imprensa. No entanto, cá estamos no século XXI, e não estamos grunhindo como chimpanzés."

http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/a-ciencia-do-estilo-como-e-por-que-escrever-bem

Eus

Eus

Tenho eu tantos eus que me espanto!
Caras, sentimentos, quereres diversos,
Fragmentos inteiros, frutos de momentos,
em delícias,
delicadezas,
fúrias,
universos.
Trago n’alma marcas e ranhuras,
Testemunhas deste eu tão controverso!

Lavro a palavra, bendita companheira,
Das horas de alegria e isolamento,
Que em tempos de obscuridão
em teias grudentas,
tecem tramas,
dramas,
dolorosos enfrentamentos,
tantos!
que só cabem em meus eus,
torvelinhos,
 em tórridos pensamentos.


Odenilde Nogueira Martins

Colocação pronominal - mesóclise

AGENDE-SE!



Opiniões sobre o livro "Caso encerrado" - Odenilde Nogueira Martins

Rubenio Marcelo Caso encerrado! - acabo agora de ler o seu belo livro (que traz uma seleta coletânea de contos que incitam o leitor a significativas reflexões). CASO ENCERRADO, de Odenilde Nogueira Martins: indico aos que curtem a leitura de narrativas inteligentes e instigantes.
Rubenio Marcelo Li e reli, amiga Odenilde, e sorvi a beleza advinda de cada criação ficcional contida na sua obra. Parabéns! Levarei agora o livro para a nossa Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

Reinoldo João Corrêa  Agora, depois de um 'caso encerrado', passei a entender um pouco mais desse aperto que dói no peito, mesmo quando se está perto de quem se ama. Ela é causada pela lonjura das almas. Leiam os contos, e depois me contem, se Maria não tinha razão.

Salvador Neto  Parabéns Odenilde Nogueira MartinsEstou devorando seu livro, ótimo! E o lançamento em local tão bacana foi show, abraços!

Sílvio Vieira Cara Ode,
Acabei de ler seu livro de contos: Caso encerrado e gostei do que li. As narrativas são comuns e factíveis, as melhores investidas estão na ficção. Já tinha lido alguns de teus textos, no Blog. Gostei muito de : “Os cães ladram” e “Caso encerrado”, que poderia ter sido inspirado no Sangue Verde, particularmente quando o filho de Bambico, resolve dar fim à vida de seu amante.Agora ficarei esperando seu livro de poesias, embora goste mais de Contos e Romances. Na minha modesta opinião, você já alcançou na poesia um nível diferenciado.
"Caso encerrado" pode ser adquirido pelo e-mail: prof.odenilde@hotmail.com

SEM MIM - Odenilde Nogueira Martins

Sem mim

Na composição de um cenário,
Estranha vivência sem fim,
De figurante, pano de fundo,
Vejo pelo vão de uma fresta,
A minha vida sem mim.

Aprisiona-me vira-mundo
Em uma história alheia,
Roteiro triste infecundo,
Inseto preso em uma teia.

Na vida de outra vida,
rica de engenhos tantos,
minhas horas cansadas, dissolvidas,
procuro em todos os cantos,
lembranças há tanto esquecidas!

Estranha vivência sem fim
De figurante, pano de fundo,
Vejo pelo vão de uma fresta,
Passando, a minha vida sem mim.

Odenilde Nogueira Martins
LEV VYGOTSKY
(1896-1934)
Nascido na Bielorrússia, Vygotsky viveu seus anos mais produtivos sob a ditadura de Stalin, na antiga União Soviética. Teve seus livros proibidos e morreu cedo, aos 37 anos.

Vygotsky e o conceito de zona de desenvolvimento proximal
Para Vygotsky, o segredo é tirar vantagem das diferenças e apostar no potencial de cada aluno.
Todo professor pode escolher: olhar para trás, avaliando as deficiências do aluno e o que já foi aprendido por ele, ou olhar para a frente, tentando estimar seu potencial. Qual das opções é a melhor? Para a pesquisadora Cláudia Davis, professora de psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sem a segunda fica difícil colocar o estudante no caminho do melhor aprendizado possível. "Esse conceito é promissor porque sinaliza novas estratégias em sala de aula", diz Cláudia. O que interessa, na opinião da especialista, não é avaliar as dificuldades das crianças, mas suas diferenças. "Elas são ricas, muito mais importantes para o aprendizado do que as semelhanças."

Não há um estudante igual a outro. As habilidades individuais são distintas, o que significa também que cada criança avança em seu próprio ritmo. À primeira vista, ter como missão lidar com tantas individualidades pode parecer um pesadelo. Mas a pesquisadora garante: o que realmente existe aí, ao alcance de qualquer professor, é uma excelente oportunidade de promover a troca de experiências.

Essa ode à interação e à valorização das diferenças é antiga. Nas primeiras décadas do século 20, o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) já defendia o convívio em sala de aula de crianças mais adiantadas com aquelas que ainda precisam de apoio para dar seus primeiros passos. Autor de mais de 200 trabalhos sobre Psicologia, Educação e Ciências Sociais, ele propõe a existência de dois níveis de desenvolvimento infantil. O primeiro é chamado de real e engloba as funções mentais que já estão completamente desenvolvidas (resultado de habilidades e conhecimentos adquiridos pela criança). Geralmente, esse nível é estimado pelo que uma criança realiza sozinha. Essa avaliação, entretanto, não leva em conta o que ela conseguiria fazer ou alcançar com a ajuda de um colega ou do próprio professor. É justamente aí - na distância entre o que já se sabe e o que se pode saber com alguma assistência - que reside o segundo nível de desenvolvimento apregoado por Vygotsky e batizado por ele de proximal.

Nas palavras do próprio psicólogo, "a zona proximal de hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã". Ou seja: aquilo que nesse momento uma criança só consegue fazer com a ajuda de alguém, um pouco mais adiante ela certamente conseguirá fazer sozinha. Depois que Vygotsky elaborou o conceito, há mais de 80 anos, a integração de crianças em diferentes níveis de desenvolvimento passou a ser encarada como um fator determinante no processo de aprendizado.

HENRI WALLON
(1879-1962)
e o conceito de sincretismo
Entenda de que maneira o pesquisador francês mostrou que as crianças pensam, mesclando realidade e imaginação.

Ao conversar com crianças pequenas, é comum ouvir frases curiosas. Se você pergunta, por exemplo, por que a Lua aparece à noite, uma responde que "ela queria sempre estar de dia, mas brigou com o Sol", outra diz que "as estrelas resolveram quem ficava de dia e quem ficava de noite" e assim por diante. Esse jeito de pensar, que por vezes parece não ter lógica para os mais crescidos, é chamado de pensamento sincrético e é natural da infância. Sincretizar significa reunir, e é isso que os pequenos fazem - ao tentar explicar as coisas, eles misturam realidade e fantasia sem distinção. Embaralham todas as ideias em um mesmo plano e veem o mundo de forma global e generalizada. 

O termo vem da filosofia e aparece em diversas teorias do desenvolvimento. Foi na obra do médico, psicólogo, filósofo e educador francês Henri Wallon (1879-1962), no entanto, que ganhou uma nova perspectiva: o pesquisador explicou que o desenvolvimento infantil vai do sincretismo à categorização. "No início, a percepção do bebê é nebulosa. Aos poucos, à medida que tem contato com novas experiências e informações, ela vai se refinando. Com o desenvolvimento, chega-se ao pensamento categorial, no qual a criança já é capaz de definir e explicar elementos", diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 

A maneira como a criança pensa é influenciada por dois fatores: sua capacidade cognitiva e as referências que recebe do meio. Os pequenos têm acesso a conhecimentos vindos de diferentes fontes - experiências pessoais, informações trazidas de casa ou da escola e tradições culturais (mitos, fábulas e histórias). No entanto, não conseguem organizá-los. 

Wallon explica que o pensamento infantil tem características particulares, diferentes das do adulto. A principal delas é o pensamento por meio de pares complementares. A criança não consegue explicar um objeto sem relacioná-lo a outro. Quando questionada, combina diferentes referências e apresenta uma resposta. "Ela tenta conciliar tudo aquilo que recebe das fontes de conhecimento usando para isso uma lógica própria", diz Laurinda. Nada impede, no entanto, que os mesmos elementos sejam recombinados em outro momento e adquiram outro sentido. Os pequenos podem, por exemplo, dizer que a chuva é o vento e depois, ao ser questionados se ambos são iguais, afirmar que não e que só é chuva quando tem trovão. 

Essa aparente confusão ocorre porque a criança ainda não é capaz de colocar os objetos em um sistema de categorias preestabelecido, no qual cada coisa tem um único significado. Quando tenta explicar o mundo à sua volta ou responder a algum questionamento, ela enfrenta obstáculos e procura diversos mecanismos para fugir deles. "Esse processo envolve um ajuste entre o que já é conhecido e as respostas que precisa dar. Para isso, todos usam os artifícios que possuem naquele estágio de desenvolvimento", explica Lilian Pessôa, coordenadora auxiliar e professora no curso de Pedagogia da Universidade Paulista (Unip) e doutoranda em Educação pela PUC-SP. 

Entre as principais estratégias de resposta estão a tautologia, a elisão e a fabulação. A primeira é a repetição de uma ideia dada: "Como é o sal? É salgado". "Na impossibilidade de dar uma resposta a uma questão, o menos arriscado é repetir o primeiro termo dado pela pessoa que perguntou", diz Laurinda. A elisão significa fugir do tema e passar de um assunto a outro aparentemente diferente: "O barco boia porque tem água e é de madeira. Às vezes, a gente faz cestos de palha e sofás". Já a fabulação é a tentativa de preencher as lacunas do relato imaginando, ampliando ou inventando. Por exemplo, uma criança, ao ser questionada de onde veio, diz que saiu do repolho. Provavelmente ela recebeu essa informação da mãe ou de outra fonte do conhecimento. Para validar sua resposta, ela afirma que se lembra de quando estava lá e descreve o que sentia. 

O aspecto lúdico das falas dos pequenos dá a elas um caráter poético, mas também pode gerar desconfiança entre os adultos - que confundem o que é dito com mentiras. Para evitar o problema, é importante perceber que a mistura entre realidade e imaginação faz parte do pensamento infantil (leia o trecho de livro na próxima página). Como diz Wallon no livro As Origens do Pensamento na Criança: "Muitas invenções sobre as quais a criança tece fantasias recebem seu tema do adulto. É, aliás, com frequência, com fábulas que ele responde às curiosidades dela. A ficção não é apenas natural da criança. Ela lhe é também proposta ou imposta". 

Cheio de significados e sentidos, e repleto de conexões subjetivas, o jeito como os pequenos explicam o mundo à sua volta não deve ser tomado como verdade, mas tampouco pode ser reprimido. "Disciplinar inteiramente o pensamento, sejam quais forem os termos como isso se exprima, pode corresponder a fechar os caminhos que permitem recombinações suscetíveis de conduzir o pensamento por caminhos inéditos. É aqui que o sincretismo, que guarda a possibilidade de tudo ligar a tudo, de forma anárquica, pode levar ao novo", diz a pesquisadora Heloysa Dantas no livro A Infância da Razão. 

É preciso, portanto, oferecer condições para que a criança exerça seu pensamento e sua expressão e possa evoluir. "Quanto mais repertório ela adquirir e quanto mais puder experimentar situações diversas e confrontar o que pensa com pessoas que têm bagagens culturais diferentes (sejam elas crianças, professores, pais ou outras fontes com as quais tenha contato), mais chances há de caminhar para a diferenciação", diz Laurinda (leia a questão de concurso na última página). A professora lembra que é na solução dos confrontos que a inteligência evolui.

http://revistaescola.abril.com.br



Resposta: fotografia - motocicleta - pneumático - cinema/cinematografia - militar - português - delegado - botequim - otorrinolaringologista - neurose - futebol de salão - pornográfico - metropolitano

OSTRACISMO -Nelson Bortoletto-

A você e a todas as almas que emprestam outras almas para dizer-se si próprias.

Aos escritores:

Dizem que poetas só brincam com as palavras, como se eles não sentissem, mentissem o tempo todo...dizem...
fingimos, sim o ar que respiramos, verdade...tudo é razão.


OSTRACISMO

Anestesiado,
Imune a mundanos estímulos,
O coração contristado
Nega-se a manifestar.

Relegado ao ostracismo
Por valores que ignora,
Resolveu viver num abismo
E quer parar de falar.

Não é por preciosismo,
Também não por comodismo
E nem por se acovardar.

É que o coração amoroso
Costuma ser ansioso
Na hora de se entregar.

Vê que num dado momento
E apesar do sofrimento
Não há quem o queira escutar.

Então fica num cantinho
Vivendo um estar sozinho
Para não incomodar.
Nelson Bortoletto
-Nelson Bortoletto-

Lançamento do livro Caso Encerrado - Odenilde Nogueira Martins - 1









































































































O lançamento aconteceu no dia 21/11/14 no MAJ - Museu de Arte de Joinville
Caso Encerrado pode ser adquirido através do e_mail: prof.odenilde@hotmail.com
Valor: 25 reais